(Português) Rio de Janeiro, 06 de maio de 2011
A autorização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para a derrubada da cobertura do Maracanã revoltou profissionais que participaram do tombamento do estádio, em 2000. Relator do processo de tombamento, o arquiteto Nestor Goulart Reis Filho afirma que a cobertura não poderia ser demolida “em hipótese nenhuma”. Para ele, retirar a “marquise é como cortar a cabeça de uma pessoa”. Segundo o arquiteto, “um bem tombado é intocável”. O Iphan permitiu que a marquise seja substituída por um teto de lona.
Italo Campofiorito, que também participou do tombamento, é direto: “As reformas estão destruindo o Maracanã, o Iphan não protegeu o estádio”. Em texto entregue, no mês passado, a colegas do Iphan, Claudia Girão, ex-chefe da Divisão de Proteção Legal do Instituto, afirma que a demolição da marquise é “uma descaracterização fundamental”.
A decisão do superintendente do Iphan-RJ
Em 2010, o superintendente regional do Iphan, Carlos Fernando Andrade, permitiu a demolição do anel inferior do estádio; em abril passado autorizou a derrubada da marquise — segundo laudos apresentados pelo governo do Estado, o teto não resistiria à estrutura que iria complementar a cobertura do estádio. No parecer, Andrade diz que a modificação não teria consequências paisagísticas, pois as alterações ocorreriam “abaixo do ponto focal do observador”. Afirma que a estrutura do Maracanã não foi citada nos pareceres do tombamento.
A decisão de tombar o estádio
O processo de tombamento do Maracanã — consultado ontem pelo Informe — está arquivado no Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio. Iniciados em 1983, os trabalhos foram retomados em em 1997, quando houve o anúncio de uma nova reforma no estádio. Em ofício ao governo do Estado, o então diretor do Departamento de Proteção do Iphan, Sabino Barroso se disse preocupado com a possibilidade de as obras descaracterizarem um bem “mundialmente conhecido”. Na época, Claudia Girão escreveu que as modificações no estádio deveriam “respeitar a essência da obra e se condicionar às premissas de sua preservação como patrimônio histórico e artístico nacional”.
Proteção total
Ao contrárido do que já foi divulgado, a proteção não é apenas para a parte externa do estádio. Quando discutiram o tombamento, os técnicos examinaram a colocação de cadeiras nas arquibancadas e se disseram preocupados com o fim da Geral, que só ocorreria anos depois.
Projeto audacioso
No processo de tombamento, os pesquisadores Adler Homero Castro e Regina Coeli Pinheiro da Silva destacaram que o projeto arquitetônico do estádio tinha “particularidades audaciosas para sua época, no que se refere à concepção e técnica”.
Estádio é emblema da cidade
Campofiorito não aceita a tese de que a mudança da cobertura não afetaria a visão do estádio. “O Maracanã é sempre mostrado do alto, é um emblema da cidade”, diz. Reis Filho frisa que obras em bens tombados só podem ser realizadas para preservá-los ou para restituir suas características. Em seu texto, Claudia Girão afirma que a remoção da marquise seria “uma das mais radicais intervenções realizadas até hoje em bens tombados que não sofreram incêndio ou outra calamidade.”
Ao contrário das obras no Maracanã, mudanças na Marina da Glória foram levadas ao Conselho Consultivo do Iphan — o anteprojeto foi aprovado na quarta passada. Até agora, a direção nacional do Instituto não se manifestou sobre o estádio.
Fonte: Macaé News
Leave a Reply