O que os índios preferem: terras ou ingressos para a Copa?

08 de novembro de 2011

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, pediu para a Fifa que ingressos dos
jogos da Copa do Mundo no Brasil sejam vendidos com desconto para populações
indígenas e pessoas de baixa renda.

O tempo (ou o cargo ocupado) faz maravilhas com as pessoas.

Relembrar é viver: em 2009, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por 10
a 1, manter a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol,
no Norte de Roraima. Uma boa decisão judicial que foi um alívio frente
a uma enxurrada de más notícias para quilombolas, ribeirinhos, caiçaras,
camponeses, sem-terra e indígenas que estampam o notíciário diariamente.
Na época, o então deputado federal Aldo Rebelo divulgou uma nota repudiando
a decisão, dizendo que ela agridia o interesse nacional e projetava incertezas
quanto à unidade da nação.

É notória a boa relação do ex-presidente da Câmara com os militares. E
sabe-se que há muita gente nas forças armadas cuja mentalidade não avançou
desde a Guerra Fria, ostentando aquela paranóia da invasão estrangeira
ou de que as terras indígenas vão se tornar países independentes por estarem
perto da fronteira. Como se a experiência da reserva Ianomâmi, bem maior
e fronteiriça, não tivesse mostrado o contrário. E como se as forças armadas
não tivessem livre acesso a qualquer parte do território nacional.

Aldo, na época, soltou uma nota incisiva, da qual destaquei alguns trechos:
“O Supremo abre um precedente para que sejam implantados no Brasil um Estado
multinacional e uma nação balcanizada, pois confere a tribos indígenas
que fazem parte do povo brasileiro o esdrúxulo status de minorias apartadas
do todo nacional, com prerrogativas negadas a outros estratos que há cinco
séculos amalgamam a formação social do país”.

“O respeito aos direitos dos indígenas não pode implicar o esbulho dos
não índios que há muito tempo fincaram a bandeira do Brasil naquela região”.

“Os índios beneficiados foram isolados da nação. Os índios e não índios
prejudicados podem recorrer à resistência não violenta na defesa de seus
direitos históricos. E o Congresso Nacional, última instância da soberania
popular, tem o dever de reparar este erro calamitoso do Executivo e do
Judiciário”.

Erro calamitoso pois, como todos sabem, homens brancos, principalmente
arrozeiros, são uma espécie pré-cabralina que já habitava Roraima antes
da chegada desses índigenas.

Garantir os mínimos direitos a esses povos, que amargaram séculos de genocídio,
não os isola do resto da nação. Pelo contrário, decisões como essa, por
mais que não sejam perfeitas, ajudam a torná-los, de fato, brasileiros,
por lhes conferirem dignidade.

Diante disso, o ministro deveria se perguntar o que essas populações preferem:
as terras que lhes são de direito, para poderem plantar e sobreviver, ou
ingressos baratinhos para a Copa?

Ou talvez ele esteja propondo ingressos baratos para os indígenas porque,
no ritmo em que as coisas andam em Estados como Mato Grosso do Sul (que
têm tocado um genocídio, a conta-gotas, de suas populações tradicionais
em nome do desenvolvimento agropecuário), em breve não vão sobrar lá muitos
para dar prejuízo aos organizadores dos jogos.

Fonte:
Blog do Sakamoto

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