Comunidade do Campinho sofre com ameaças de remoção da prefeitura

Rio, 01/02/2011

Hoje, como havia sido anunciado em nota anterior, funcionários da subprefeitura da Zona Norte estiveram na comunidade do Campinho, no bairro do Campinho. Eles foram à localidade para começar a retirada dos moradores. Como de costume, levaram caminhões de mudança. Entretanto, encontraram uma comunidade mais organizada e disposta a não aceitar a “alternativa” oferecida pela prefeitura de uma casa no bairro de Cosmos, na Zona Oeste. Uma viatura da Polícia Militar e alguns guardas municipais acompanhavam, à distância, a ação dos agentes. Muitos moradores afirmaram que havia a certeza por parte destes funcionários de que conseguiriam retirar mais de 20 famílias apenas hoje, o que não se confirmou. Assim que perceberam que o seu trabalho não seria fácil, começariam um longo e insistente trabalho de ameaças e coações.

Havia dois funcionários. O primeiro, era responsável por tentar convencer os moradores e também um dos principais responsáveis pelas ofensas e ameaças direcionadas às pessoas. O outro agilizava a mudança e conferia quem havia aceitado ou não e providenciava a ida dos moradores imediatamente para Cosmos. O que realizava o trabalho de convencimento, fazia o que outros agentes em outras subprefeituras praticavam: conversava individualmente com os moradores ou quando estes estavam em pequenos grupos, fazendo isso incansavelmente, indo de um lado para o outro da comunidade. Entre idas e vindas falava uma imensidão de barbaridades. Foi claro perceber, e em alguns momentos ele teve sucesso, que havia uma tática de jogar família contra família, parente contra parente e a comunidade contra a Defensoria Pública e outros apoiadores. Em um certo momento, conseguiram gerar um estado de tensão generalizado, criando confusão quanto aos direitos das pessoas. Muitas, pressionadas e na dúvida quanto ao seu futuro, aceitaram a proposta da prefeitura. Importante destacar que eles não permitiam que as pessoas vissem o contrato que iriam assinar. Isto, segundo os funcionários, apenas seria possível ser feito quando chegassem em Cosmos.

A desfaçatez era tão grande que um destes agentes (o que cuidava da “logística”) teria se apresentado a uma moradora como sendo espírita e pedido desculpas pelo o que estava fazendo, dizendo que apenas estava cumprindo ordens. Justificativa muito comum utilizado pelos bárbaros que hoje trabalham nas subprefeituras. Não bastasse isso, desta vez conversando com um pastor local, teria dito que era evangélico. Além disso, disse também que a comunidade era nojenta, gerando revolta no pastor que, obviamente, não gostou da postura nada respeitosa do “representante da lei”.

Uma moradora foi informar a um destes agentes que não queria sair e que a Defensoria e a lei estavam ao seu lado. Ele, de forma irônica, perguntou a moradora: “cadê a defensora, não estou vendo a defensora, será que ela está ali?”. Em outro momento, este mesmo funcionário teria dito que não adiantaria a ajuda da Defensoria, pois as pessoas não teriam direito a nada. O responsável pela “logistica” disse para os moradores, que se estes não saíssem até quarta-feira, pois até lá uma liminar poderia ser dada pelo juiz, as pessoas seriam retiradas de suas casas, seus pertences serão jogados na rua e casa vai ser demolida. Ameaçava os moradores dizendo que a prefeitura retornaria na próxima quarta-feira para acabar de retirar os moradores. Quando os moradores questionaram, ele disse que as pessoas precisam “saber conversar”, “precisam aprender a falar” e chamou uma moradora de burra. De forma ameaçadora, disse que viu muita coisa errada e que vai “vetar”, se referindo à resistência dos moradores.

Entre os vários abusos e arbitrariedades dos agentes da subprefeitura da Zona Norte, uma proposta chamou atenção: um funcionário propôs que uma senhora que vivia como inquilina em uma casa que foi negociada, forjasse um cenário em uma outra moradia em que estava provisoriamente (colocando, segundo o que ele entendia como sendo uma casa: cama, geladeira e um fogão) para que assim ela ganhasse o direito a uma casa em Cosmos. Entretanto, o dono do imóvel em que estava agora não aceitou a proposta da prefeitura. Usando mais uma vez de uma forma sórdida de lidar com as pessoas, o agente da subprefeitura, tentando provocar desavenças e intrigas entre os moradores, disse que esta inquilina apenas ganharia casa se todos os outros também aceitassem. Uma escolha de Sofia.

Entre outros vários absurdos observados, quando os funcionários da prefeitura estavam almoçando, um deles teria dito, xingando as pessoas de burras, que não entendia o por que alguns moradores estão aceitando sair de suas casas sem documentos para ir para Cosmos. Segundo ele, os moradores nunca terão a propriedade da nova casa.

Por fim, cabe mencionar o estrago emocional e físico causado pela pressão vil dos agentes públicos: uma moradora, que já havia relatado que estava depressiva e que um problema em sua perna havia piorado nas últimas semanas, passou mal mais uma vez e defecou involuntariamente. Em outro caso, uma moça que está grávida teve sucessivos aumentos de pressão e precisou ir ao pronto socorro diversas vezes.

A pergunta que se faz é a seguinte: esta é a política de reassentamento digna e respeitosa que o prefeito diz fazer? Este é apenas mais um exemplo das inúmeras violações que estão ocorrendo na cidade inteira, em diversas favelas. Difusão do medo, coação, desrespeito à Lei Orgânica, violência física e moral.

Fonte: Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência.

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