(Português) Moradores das Torres Gêmeas e a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte: bolsa moradia em questão.

(Português)

A apresentação aconteceu no dia 21 de outubro, 33 dias após o incêndio, em uma escola na rua paralela às torres. Estavam presentes todos os moradores da torre 100 e alguns da torre 64. O diretor presidente da Urbel, Claudius Vinicius Pereira, não compareceu a reunião, assim, foi representado por: Aloísio Moreira Rocha, diretor de operações da Urbel; Maria Aparecida, supervisora social da Urbel e Antônio de Pádua, responsável pelo cadastramento no programa Bolsa Moradia.

A reunião tinha o intuito de apresentar o Bolsa Moradia, programa de caráter provisório que concede o valor mensal de R$300,00 a pessoas desabrigadas ou habitadas em imóveis com situação de risco. Além de esclarecer aos moradores como é seu funcionamento e a série de protocolos¹ para receber a quantia mensal. Ao final, antes de abrir às perguntas, os representantes da Urbel exibiram alguns casos que são reprovados pelo técnico na vistoria como imóveis sem condições de moradia (casas com proximidade a encostas; a córregos; com trincas; sem iluminação/ventilação; com infiltrações; com vazamentos; com fiação elétrica aparente; próximas a rede de alta tensão). Os exemplos demonstraram a fragilidade do programa ao ilustrar fotografias de barracos em regiões periféricas, claramente, os únicos acessíveis diante do valor do benefício. Houve um silêncio após a última imagem e a prefeitura agradece a apresentação disponibilizando o microfone para perguntas. Calmamente, os moradores se levantam e começam a questionar o programa:

Moradora: A pessoa tem que morar em uma casa digna, né? Eu queria saber onde nós, os moradores, vamos encontrar uma casa digna por R$300,00?

Urbel: Realmente com este valor não é fácil, nós reconhecemos que vocês moravam em uma localidade privilegiada, agora é importante deixar claro que este valor é regulamentado por um decreto municipal, onde precisamos trabalhar em cima deste valor que é o que temos hoje.

Moradora:Ficamos sabendo sobre esta bolsa moradia, e um ajudando o outro, começamos a procurar alguns barracões, porém, a maioria dos proprietários não alugam para quem tem criança e aqui temos famílias com 6 e 7 filhos. E outra, avalista – tem que ter avalista – e no mínimo 2, um que more e tenha imóvel aqui na cidade e outro que receba no mínimo 3 vezes o valor do aluguel, vocês sabem da nossa situação aqui, não temos ninguém para nos ajudar. Como faremos?

Urbel:Sabemos que é difícil, porém, temos 1400 famílias cadastradas no programa, ou seja, ele funciona. E vocês podem tentar negociar com o proprietário direto, infelizmente não temos como ajudar, não temos corpo operacional para ajudar a localizar as casas e, infelizmente a prefeitura não pode ser avalista de vocês.

Morador: Como acharemos uma casa por este valor próximo daqui? Trabalho aqui, meus filhos estudam aqui, tenho uma história neste lugar, vivo aqui há 15 anos.

Urbel: Vocês poderão alugar casas aqui em Belo Horizonte ou em cidades vizinhas, desde que esteja em um raio de 100km da capital. É preciso deixar claro que a situação de vocês não é a única. Existem pessoas em situação de risco como vocês.

Moradora: Quando começamos a procurar os barracos, falamos que era a prefeitura que iria pagar o aluguel, os proprietários saíram de campo.

Diante de perguntas não respondidas, os técnicos da Urbel pedem licença para se retirar e concedem a decisão aos moradores para adesão ao programa Bolsa Moradia, alternativa única concedida desde o incêndio.

Índio pega o microfone e relata a frase que lhe tocou na reunião com a prefeitura do dia anterior: «mais vale um pássaro na mão do que dois voando». Após o relato, o morador do prédio 100 propõe uma divisão na sala, para direita, os que estavam dispostos a aceitar a Bolsa Moradia, e, para a esquerda, os que continuariam na luta pela moradia.

Na parte esquerda da sala, ficaram apenas 4 pessoas com olhos tristes. Sandoval, um dos moradores que escolheu continuar na luta, pega o microfone e diz: «vocês não vêem que a prefeitura está conseguindo o que ela quer? Nos vencer pelo cansaço e falta de respostas? Temos o direito a morar aqui, estamos aqui há mais de 15 anos». Os moradores respondem: «eles conseguiram, estamos totalmente desgastados fisicamente e emocionalmente, não aguentamos mais morar debaixo da lona».

Notas:
1 – Para a adesão do Programa Bolsa Moradia é necessário a autorização da diretoria da Urbel para a família requerente, cadastro socioeconômico, indicação da moradia – de responsabilidade da família, contrato de locação assinado pelo proprietário e vistoria técnica da Urbel.

Fonte: Notícia recebida por email de Marcelo XY

 

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