Começou hoje o seminário sobre megaeventos esportivos e direito à moradia

Teve início na manhã desta segunda-feira o seminário Impactos urbanos e violações de direitos humanos em megaeventos esportivos. Cerca de cem pessoas estiveram presentes para participar das discussões. A atividade começou com a apresentação do vídeo “Game On” sobre os Commonwealth Games de Nova Dehli, realizados este ano. Na sequência, cada um dos convidados fez sua apresentação e, ao final, o debate foi aberto para o público.

O pesquisador grego Stavros Stavridis, da National University of Athens falou sobre a experiência de Atenas na realização dos Jogos Olímpicos de 2004. Stavridis trouxe dois exemplos de intervenções urbanas relacionadas à moradia: o primeiro foi a Vila Olímpica, que, segundo ele, hoje é um lugar deserto, sem vida, uma não cidade. Ou seja, foi uma oportunidade desperdiçada de produção de habitação social.

O segundo exemplo é o do conjunto habitacional Profygika (refúgio, em grego), uma comunidade formada nos anos de 1935-36 para abrigar refugiados turcos depois da guerra de 1922. O conjunto encontra-se em situação bastante precária e o governo pretendia demoli-lo para aproveitar seu potencial construtivo que é muito alto, já que está localizado na região central da cidade.

Mas a sociedade se mobilizou contra a demolição, argumentando que o conjunto habitacional poderia ser recuperado, melhorado, embelezado e que se tratava de um patrimônio histórico da arquitetura moderna do país. A briga foi parar na justiça e o governo saiu derrotado. Impedido de demolir a área, a solução encontrada pelo governo foi esconder aquele local considerado degradado colocando uma enorme cortina na fachada dos prédios.

E não só o conjunto habitacional foi coberto, mas também outras partes da cidade. Isso faz parte da estratégia de esconder as areas da cidade que não se quer mostrar aos turistas, disse. Para o pesquisador, o governo desperdiçou a oportunidade de recuperar o local para que ele pudesse efetivamente servir de habitação social à população mais pobre. Na avaliação de Stravidis, os megaeventos esportivos não melhoram as condições de moradia das pessoas, ao contrário, às vezes pioram.

Em seguida, foi a vez do pesquisador Alain Mabin, da University of Witwatersrand, de Johannesburg, África do Sul. Mabin destacou o fato de que o Brasil e a África do Sul são duas das nações mais desiguais do mundo e com democracias relativamente recentes. Segundo o pesquisador, os impactos da copa de 2010 foram sentidos de forma diferente nas diferentes cidades da África do Sul que sediaram o evento. Em Soweto, por exemplo, que é uma cidade muito pobre, a população sentiu de forma positiva as mudanças e a qualificação do sistema de transporte público.

Mas a pergunta fundamental que precisa ser feita, segundo Mabin, é o que está por trás desse jogo. A resposta, segundo ele, é o dinheiro, sempre o dinheiro, e muito dinheiro. Ele mostrou que não à toa a sede da FIFA e do COI estão na Suíça, onde vários dos patrocinadores têm contas bancárias. Segundo Mabin, com as regras do sistema bancário da suíça é impossível a identificação da movimentação do dinheiro.

Alain Mabin destacou ainda o fato de que para as pessoas comuns do país, a realização de um megaevento esportivo como uma Copa do Mundo coloca uma situação complexa e cheia de contradições que precisa ser levada em consideração: por um lado, um evento como este significa festa e celebração, por outro, pode representar grandes perdas.

Por fim, o pesquisador do IPPUR (UFRJ) Guilherme Soninho falou sobre a experiência dos jogos Panamericanos do Rio de Janeiro. Para Soninho, o que os megaeventos fazem parte de uma nova trazem concepção de um novo modelo de cidade, onde a cidade cada vez mais assume a face da cidade-mercadoria.

Antes do Pan, falou-se que a cidade teria muitos ganhos sociais, mas o legado foram dívidas e aparatos de repressão, novos helicópteros, novos caveirões, novas armas, afirmou. Para Soninho, o massacre na favela do Alemão, com vinte mortos, antes dos jogos , foi um recado do governo sobre a política de segurança pública que seria adotada durante os jogos.

Para o pesquisador, se existiu algum legado positivo do Pan foi a maior articulação das lutas urbanas. Uma lição importante que se pode tirar da experiência do Rio é a capacidade e a generosidade dos movimentos sociais para dialogar e construir junto com novos atores. Acho que isso explica a continuidade da rede até hoje.

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