Moradores protestam contra remoção

Fortaleza, 16 de outubro de 2010

O protesto tinha como objetivo intensificar o movimento dos moradores da área contrários à possível remoção das famílias do local, por conta das obras de duplicação da Via Expressa e da construção do Ramal Veículo Leve sobre Trilho.

Edimar Soares

Apitos, cartazes e tambores deram o tom da manifestação de comunidades que moram no entorno dos trilhos da Via Expressa. Na tarde deste sábado, eles fizeram uma caminhada para pedir a adesão de mais moradores da região ao protesto contra a remoção das famílias que vivem ali, por causa de duas obras que fazem parte do eixo de mobilidade urbana para a Copa de 2014. Uma é a duplicação da Via Expressa e a outra é o Ramal Veículo Leve sobre Trilho (VLT) Parangaba/Mucuripe, que vai ligar a região hoteleira ao Centro e à Parangaba.

De acordo com a advogada Aline Furtado, da Organização Resistência Libertária, que tem oferecido apoio às comunidades, essas duas obras atingem os moradores da região, inclusive os mais antigos, que têm sofrido pressão psicológica muito forte. “Empresas terceirizadas já entraram nas casas das pessoas, tiraram fotos do local e isso tem causado pânico entre os moradores”, reclama. Para ela, o fato de o Governo não ter apresentado nem discutido o projeto com os moradores é um agravante, já que tudo o que eles sabem é por meio do que tem sido veiculado na imprensa.

A professora Nete Gomes da Silva, 41, mora há 20 anos na região e lembra que há pouco mais de dez anos, quando construíram a Via Expressa, sua casa foi desapropriada. Ela teve de passar de um lado da via para o outro. “A gente foi indenizado. Mas o dinheiro foi pouco e eu fiz a casa em cima da casa da minha sogra. O dinheiro não deu pra comprar uma casa legalizada (com escritura)”, afirma. Agora, com as obras previstas, ela teme passar pela mesma situação de novo, já que a sogra também não tem a escritura da casa. “A gente tem muito medo”, afirma.

Segundo Aline, oito comunidades já estão mobilizadas no movimento. “No momento, a pauta do movimento é a permanência da população, enquanto não for apresentado outro projeto, com estudos e propostas de moradia digna”, explica.

Conforme ela explica, muitas pessoas não têm a escritura das casas e, por isso, a indenização a ser paga seria apenas o equivalente às benfeitorias feitas pelos moradores, o que não daria condição de comprar uma nova casa.

E-Mais

O camelô João batista Silva, 57, mora há 36 anos na região e afirma que está apreensivo com as obras. “A gente nem sabia que isso tava acontecendo. Sabia que existia o projeto da Copa de 2014. de repente, nossas casas foram demarcadas”, afirma.

Ele e os moradores da área não querem sair de suas casas. “Já vivemos aqui uma vida. Não é interessante sair daqui para outro lugar que a gente nem sabe qual é”, reclama. Para ele, é como se perdesse tudo o que têm.

Todos os participantes da manifestação que foram ouvidos pelo  O POVO demonstraram preocupação com a moradia. Eles nem sabem para onde vão e temem os transtornos que a mudança causaria à população, no que diz respeito a local de trabalho e de estudo dos filhos.

Lucinthya Gomes

Fonte: O Povo

 

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