Cidades brasileiras estão entre as mais desiguais, afirma ONU

CLAUDIA ANTUNES E ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio

Relatório que será divulgado nesta sexta-feira no Rio pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU Habitat) estima que 10,4 milhões de pessoas deixaram de viver em condições de favelização no Brasil nos últimos dez anos. Aponta, no entanto, que as cidades do país estão entre as mais desiguais do mundo.

Os 10,4 milhões de pessoas equivaleriam, diz a ONU, a uma redução de 16% na proporção de moradores de “assentamentos precários” na população brasileira, que teria caído de 31,5% para 26,4%.

País Redução da população em favelas (% da pop.) Beneficiados por melhorias em favelas (milhões)
Marrocos 45,8 2,43
Colômbia 39,4 3,72
Egito 39 5,01
Indonésia 33 21,23
Índia 32 59,73
Vietnã 30,9
Turquia 30,7 3,51
México 27,6 5,08
China 25 65,31
Brasil 16 10,38
Argentina 4,94
Nigéria 8,05
África do Sul 1,96

Foram divulgados apenas trechos do relatório “Estado das Cidades do mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido”. O documento antecipa o 5º Fórum Urbano Mundial, que começa na segunda no Rio.

A redução na proporção de moradores de assentamentos precários no Brasil é atribuída a políticas que “aumentaram a renda dos pobres urbanos”, à redução do crescimento populacional e a programas de urbanização, entre outros.

Segundo o relatório, a desigualdade nas cidades brasileiras é “muito alta”, no mesmo patamar de centros urbanos de países como Colômbia, Argentina, Etiópia e Zimbábue.

O indicador mostra a má distribuição da riqueza, o que faz com que cidades pobres, como Pointe Noire, no Congo, apareçam entre as mais iguais, enquanto Washington (EUA) está entre as mais desiguais. Mas a desigualdade se reflete no alocamento dos terrenos, dos espaços públicos e dos serviços urbanos, afirma a ONU.

Desigualdade nas cidades
Cidade Índice de Gini
Pequim (China) 0,22
Hanói (Vietnã) 0,39
Amã (Jordânia) 0,39
Caracas (Venezuela) 0,39
Washington DC (EUA) 0,537
Brasília 0,6

Em todo o mundo, o relatório estima que 227 milhões de pessoas deixaram de viver em assentamentos precários entre 2001 e 2010.

Discrepância

Dados do IBGE de 2000 mostravam que 6,5 milhões de brasileiros, ou 3,8%, viviam em “aglomerados subnormais”, moradias dispostas de forma densa e desordenada em áreas de propriedade alheia.

Pesquisadores argumentam que o dado é subestimado, e há estudos que apontam que o número pode chegar a 12,4 milhões de pessoas, ou 7,3%.

Como o Habitat não informou os critérios usados para definir população favelizada, não é possível investigar por que os dados são discrepantes.

Desigualdade nos países
País Desigualdade (índice de Gini – usado para medir as desigualdades sociais)
Belarus Baixa (menos de 0,299)
Romênia
Bulgária
Armênia
Quirguistão
Hungria
China Relativamente baixa (de 0,3 e 0,399)
Polônia
Lituânia
Argélia
Geórgia
Tajiquistão
Camarões Relativamente alta (de 0,4 e 0,449)
Uganda
Costa do Marfim
Vietnã
Nepal
Malásia
Filipinas Alta (de 0,450 a 0,499)
El Salvador
Uruguai
Venezuela
Panamá
Peru
Argentina Muito alta (de 0,500 a 0,599)
Brasil
Chile
Colômbia
República Dominicana
Equador
Namíbia Extremamente alta (mais de 0,6)
Zâmbia
África do Sul

Fonte: Folha de S. Paulo


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