SP não tem verba para cumprir meta de moradia no centro

04 de dezembro de 2013

Descontentes, lideranças anunciam que ocupações na região devem ser retomadas no próximo ano

por Gisele Brito, da RBA

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou hoje (4), durante reunião com movimentos de moradia, que a administração municipal não tem dinheiro para construir unidades habitacionais de interesse social no centro da cidade, utilizando para isso imóveis abandonados e já ocupados, conforme ele havia se comprometido com esses mesmos movimentos no início do mandato. A informação pegou de surpresa as lideranças populares, que já sinalizam para o retorno das ocupações no centro a partir do ano que vem. Em razão da promessa anterior de Haddad, essas ocupações estavam suspensas.

“Saímos muito chateados. Ele disse que não tem dinheiro para realizar os projetos. Que a conta do centro não fecha. Hoje ele disse a verdade nua e crua”, afirmou o dirigente da Central de Movimentos Populares (CMP) Benedito Barbosa, o Dito.

Além da CMP, participaram da reunião lideranças da União de Moradia e da Frente de Luta. Da parte da administração, também estava presente o secretário de Habitação, José Floriano Marques Neto.

A insatisfação deve provocar uma nova onda de ocupações. “Vamos esperar o resultado das conversas que a prefeitura terá com a Caixa (Econômica Federal), em janeiro. E se as coisas não andarem, em março, acaba a conversa e vamos negociar de dentro das ocupações”, avisa Dito.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Habitação confirmou que durante a reunião Floriano e Haddad afirmaram que não há os R$ 400 milhões necessários para realizar todas as desapropriações previstas no centro. Mas garantiu que 24 mil unidades em diversas outras regiões já estão em obras ou prestes a serem iniciadas.

Para os movimentos, a prefeitura supervalorizou o preço da desapropriação de alguns prédios. A ocupação do número 911 da Avenida Prestes Maia, por exemplo, custaria sozinha R$ 40 milhões nas contas da secretaria, valor quase seis vezes maior do que os R$ 7 milhões apontados no estudo contratado pelo movimento com escritórios de arquitetura. Essa ocupação abriga 450 famílias.

A Secretaria de Habitação não contesta os cálculos, mas diz que tem obrigação de pagar os valores de mercado. A secretaria também não respondeu por que não transfere a tarefa para a Cohab, que, segundo os movimentos, teria mais condições de levar adiante os projetos.

Dívida

Segundo Dito, o prefeito se queixou dos problemas relacionados ao pagamento de subsídio para o transporte público e do recuo do governo federal em relação à renegociação da dívida dos municípios. Esses seriam os motivos que levaram o petista a um recuo na promessa inicial.

“A prefeitura tem que trazer o governo federal para a mesa de negociação das desapropriações. Ela não pode fazer isso sozinha. Já que tem o problema do comprometimento da dívida com o governo federal e o governo federal deu uma banana para São Paulo. Então, o Haddad tem de pressioná-los a dar contrapartida. Senão ele não consegue viabilizar a cidade”, disse.

“Se ele não tiver capacidade de investimento vai gerar o caos na cidade. Não só na habitação, mas nas outras áreas também. Será um conflito interminável. Mas não adianta ele ficar só lamentando, tem que resolver isso. Ele é o prefeito”, observou.

Mobilização na zona sul

Cerca de 5 mil pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizaram hoje uma manifestação em frente à subprefeitura do M’Boi Mirim, exigindo que o poder público garanta infraestrutura mínima de coleta de lixo e caminhões-pipa para a ocupação Nova Palestina, no bairro Parque do Lago. Segundo o movimento, o terreno foi ocupado em 29 de novembro e já conta com 3 mil famílias.

O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, afirmou que a mobilização também buscava cobrar um posicionamento do subprefeito, Antônio Carlos Dias de Oliveira, que estaria pressionando o dono do terreno. “Entramos em negociação com o proprietário, que afirmou estar sofrendo pressões da regional para pedir reintegração de posse da área”. O subprefeito negou. No entanto, segundo Boulos, também não teria garantido a infraestrutura reivindicada pelo movimento.

Dirigentes do MTST se reuniram à tarde com o secretário José Floriano Marques Neto, para discutir políticas habitacionais para a região sul.

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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