Subprefeitura se compromete a avaliar projeto de moradia popular em ocupação no sul de SP

14 de novembro de 2013

Área de antigo clube, onde seria construído um parque linear, pode ser destinada a construção de moradias populares se famílias demonstrarem viabilidade

por Rodrigo Gomes, da RBA

A subprefeita da Capela do Socorro, Cleide Pagani, se comprometeu a encaminhar com as secretarias municipais competentes o pedido de destinação do terreno do antigo clube Aristocrata, no Jardim Lucélia, zona sul de São Paulo, para a construção de moradias populares. A área, ocupada há três semanas por 240 famílias, estava destinada a sediar um parque linear.

O acordo foi firmado na última quinta-feira (8), em reunião na Superintendência da Caixa Econômica Federal, em que estiveram a subprefeita, militantes da Rede de Comunidades do Extremo Sul de São Paulo, representantes da Caixa e das famílias ocupantes do terreno.

“A condição para isso é que as famílias apresentem um estudo de viabilidade do empreendimento, estimando o número de moradias e que contemple a preservação da área verde do local, a instalação de uma Unidade Básica de Saúde e de uma creche”, contou o militante da Rede Gustavo Moura. A informação foi confirmada pela subprefeitura.

Os ocupantes contam, desde os primeiros dias da ocupação, com o apoio da Usina, um coletivo de arquitetos que atua em projetos de construção autogeridos, como, por exemplo, o desenvolvimento da Comuna Urbana de Jandira, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A área do clube aristocrata foi desapropriada em 2008, na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), para a construção de um parque linear, que nunca foi realizado. O local já está desmatado em sua maior parte. As estruturas do antigo clube, como piscinas e quadras, foram aterradas. Em uma parte do terreno há um campo de futebol de várzea que não foi ocupado.

Quando o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu fechar a Escola Estadual João da Silva, por risco de desabamento, os moradores da região pediram que ela fosse reconstruída nesta área, mas o pedido foi negado pelo governo estadual.

Em todas as ocupações, as histórias de dificuldades financeiras das famílias e a revolta com o fato de os terrenos não cumprirem sua função social é semelhante. “Ninguém mais aguenta pagar aluguel. Não estamos cometendo nenhum crime, queremos apenas melhorar as nossas condições de vida. Se ninguém vai usar o terreno, nós vamos”, disse à reportagem da RBA o pedreiro Roosevelton Gomes da Silva, de 27 anos, que mora com a esposa e dois filhos, em uma casa de três cômodos.

Hoje (14), representantes das famílias ocupantes e militantes da Rede Extremo Sul têm duas reuniões para discutir a situação dos terrenos do Jardim Gaivotas, onde estão 200 famílias e que está sendo chamado de Jardim da Luta, e da Granja Onoda, ocupado por 900 famílias e batizado de Recanto da Vitória.

A reunião do Jardim da Luta começou às 14h30 com representantes da Caixa Econômica Federal e o proprietário do terreno para se negociar uma possível aquisição e construção de moradias populares. Segundo o militante da Rede Gustavo Moura, o dono tem interesse em vender a área. Para a Granja Onoda, o encontro será às 17h, com a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). “A ideia é avaliar a possibilidade de incluir as famílias ocupantes nas 1.200 unidades habitacionais que serão construídas no local, cujo processo já vinha sendo encaminhado com o proprietário antes da ocupação”, disse Moura.

A ocupação no porto de areia desativado, no Jardim Porto Velho, iniciada há cerca de um mês, também se mantém. Segundo o funileiro Alex Firmiano, morador da área, algumas famílias estão começando a construir casas. “No próximo fim de semana, a gente vai iniciar a instalação de redes de água e energia elétrica”. O terreno é dividido em duas áreas: uma planície, onde a ocupação não se consolidou e há apenas algumas marcações de lotes, e um vale, onde estão ocorrendo as construções. Firmiano afirma que não houve qualquer contato dos ocupantes com a subprefeitura.

No total são sete as áreas com ocupação confirmada: Além dos quatro terrenos citados, uma segunda área no Jardim Porto Velho permanece ocupada por cerca de 200 famílias; a área da Organização Não Governamental Instituto Anchieta Grajaú, no Jardim Belcito, está ocupada por cem famílias; e um outro terreno de propriedade do dono da Granja Onoda, Ricardo Takaharu Onoda, também no Jardim Belcito, foi ocupado por cerca de 300 pessoas.

Até o momento não há registro de qualquer reintegração de posse nas sete áreas ocupadas na região do Grajaú. No entanto, a Rede afirma conhecer ao menos cinco pedidos feitos à Justiça paulista. Segundo Moura, representantes das famílias e da Rede tiveram uma reunião com um assessor da Secretaria da Segurança Pública (SSP), chamado Eduardo Dias, para acordar que possíveis desocupações de terrenos sejam feitas de forma pacífica por ambas as partes, afirmando que não haveria resistência dos moradores e pedindo que as famílias sejam avisadas com alguma antecedência. A SSP não confirmou a realização deste encontro.

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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