(Português) Vidigal resiste à valorização de imóveis

(Português) 05 de julho de 2013

A hipervalorização imobiliária que tomou os principais bairros do Rio já alcança as favelas pacificadas e, certamente por causa da localização, está produzindo vigorosa mudança no Vidigal. A comunidade, que conta com uma unidade de polícia pacificadora, desde janeiro do ano passado, tem atraído turistas e investidores interessados, principalmente, na belíssima vista do lugar.

Essas razões jogaram para cima o preço do metro quadrado dos imóveis no morro. Hoje, segundo o índice FIPE ZAP, o valor médio do metro quadrado do Vidigal estaria em R$ 8.299, pouco menos do que os R$ 9.285 cobrados em média na cidade do Rio. Essa elevação é sentida no morro. Um imóvel comprado há 10 anos por R$ 30 mil hoje vale R$ 350 mil. Normalmente, corrigido apenas pela inflação do período, sequer teria dobrado de preço.

O aquecimento do mercado de compra e venda no morro, produziu, segundo André Bacana, diretor cultural e social da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal (AMVV), um fenômeno que ele classifica como “remoção branca”, que leva antigos moradores venderem suas casas e saírem da favela. “Orientamos as pessoas para fazerem bons negócios e para não se mudarem para muito longe, já que isso seria uma mudança de hábitos muito grande. Alertamos muito pra isso”, diz André Bacana.

Silva Costa, corretor de imóveis no Vidigal, faz coro com André, ao afirmar que a maioria dos moradores se arrepende, quando vende a casa e se muda da favela. Para ele, a supervalorização imobiliária faz com o que o morador aprenda a valorizar mais seu trabalho e se beneficiar desse fenômeno também. É o caso, por exemplo, da diarista Elizabeth Oliveira, que vive na favela desde adolescente e comprou, com muito esforço, sua casa própria. “Eu amo o dia em que trabalho na minha comunidade. Jamais me mudaria do Vidigal, aqui é maravilhoso” , diz, orgulhosa.

Localização e vista privilegiada

As qualidades que enchem de orgulho Elizabeth são as mesmas que mantém na comunidade seus moradores mais ilustres, como a atriz Roberta Rodrigues, e atraem famosos como Vik

Muniz, o empresário Rene Abi Jaoudi e o músico pernambucano Otto, que mora no condomínio conhecido como «prédio dos artistas», por nos anos 70 terem morado por lá Gal Costa e Sérgio Ricado, entre outros. O maior investimento privado na favela, o do hotel Mirante do Arvrão, uma sociedade do empresário Antônio Rodrigues, do Belmonte, com o arquiteto Hélio Pellegrino, também aposta na vista e na localização privilegiada do Vidigal.

André Bacana diz que o crescimento só não é maior por causa da limitações da topografia do morro. “A favela cresceu verticalmente e não tem mais espaço para construir”, diz. Ele conta que a comunidade tem problemas de infraestrutura, como saneamento básico e coleta de lixo, e que a associação está pedindo a inclusão do Vidigal no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além da realização de  planejamento urbano para melhorar a acessibilidade do local.

Os problemas são vistos também por quem chegou há pouco, como é o caso do austríaco Andreas Wielend. Ele mora no Vidigal, desde 2009, e é dono do badalado Hostel Alto Vidigal, localizado no Arvrão, área com uma das vistas mais deslumbrantes da favela e, por isso, local de bons negócios. “O morro valorizou muito, sim, mas isso pode ser apenas especulação e estes valores podem acabar, depois de um tempo, caindo novamente. O crescimento muito rápido normalmente não é saudável e o povo é que sofre com isso”, diz ele, que comprou seu primeiro imóvel no Vidigal, quando chegou ao Rio, com a intenção de economizar, pois os aluguéis na Zona Sul estavam muito caros. O negócio foi feito com um investidor alemão que tinha muitas casas no Vidigal e desistiu do projeto.

 

Fonte: Viva Favela

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