Sem-teto seguem rotina e resistem a despejo na Luz

11 de agosto de 2013

Prédio ocupado no centro tem 70 famílias desde janeiro deste ano; imóvel vai receber órgão de instituto de ex-presidente

por Luciano Bottini Filho

Logo no hall de entrada, uma escala de limpeza indica quem é o encarregado pela arrumação a cada dia. A regra é simples – quem não ajuda paga pela faxina. Sujeira, só do lado de fora do edifício de seis andares, na Rua General Couto de Magalhães, no centro de São Paulo, invadido em janeiro por 70 famílias sem-teto, hoje prestes a serem removidas pela Prefeitura.

Os moradores já fizeram alguns ajustes, com biombos formando uma portaria improvisada, cozinha coletiva, banheiros separados por sexo e um varal de uso comum em um vão do prédio. Ali, a água das roupas escorre e se acumula no chão.

O edifício de vários cômodos já serviu de hotel e, até novembro do ano passado, era o escritório do Consórcio Nova Luz, que fez o projeto de reurbanização da região. O térreo foi reformado para a exibição do projeto ao público e o chão de cimento queimado continua brilhante. Mulheres lavam a louça no banheiro. As escadas, de mármore, estão sem proteção.

“Só porque houve um princípio de incêndio querem nos mandar embora”, diz Nilson da Cruz, coordenador do Movimento de Moradia da Região Centro (MMRC). A Defesa Civil apontou “problemas estruturais” no edifício.

No mês passado, o grupo fez um protesto na Prefeitura contra a desocupação do imóvel que fica na área do futuro Memorial da Democracia, do Instituto Lula. A ordem de saída ocorreu após um foco de incêndio, provocado pela discussão de um casal. “Só queimaram uns colchões”, afirma o morador Daniel Borges da Silva, de 29 anos.

Segundo o MMRC, a Prefeitura pagará R$ 900 e uma bolsa-aluguel de R$ 300 mensal.

Em fevereiro, os moradores ficaram sem água e energia. Um “gato”, segundo eles, havia sido feito pelo consórcio. A ligação clandestina foi interrompida e logo religada, diante das reclamações dos sem-teto. O Instituto Lula diz que nunca fez pedido de remoção das famílias.

 

Fonte: O Estado de São Paulo

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