Novas favelas surgem enquanto o sonho da moradia não se realiza

02 de agosto de 2013

Com renda de 0 a 3 salários, 22 mil aguardam casa própria na fila da Cohab

Sair da favela e ter casa própria: esse é o pedido das aniversariantes desta sábado (3), Albertina Pereira Gomes, que completa 27 anos, e da pequena Valéria Gomes, que faz 7. Mãe e filha vivem de favor na casa de parentes desde que o barraco onde elas moravam foi derrubado pela prefeitura de Ribeirão Preto no mês passado.

Além de Valéria, Albertina tem outras duas filhas – Isabela, 9, e Vitória, 4. A mãe está juntando madeira para reerguer o barraco na mesma favela, que ainda não tem nome.

O núcleo, no cruzamento das ruas Javari e Paraná, na zona Norte, existe desde março de 2013, quando as primeiras invasões ocorreram. Cerca de 40 famílias moram no local e, de acordo com os moradores, a prefeitura já derrubou os barracos duas vezes.

“O pessoal da prefeitura veio e derrubou tudo. Deixou o fogão e a geladeira”, explicou Albertina, que vive de bicos e com a ajuda de amigos e familiares, pois não recebe pensão do ex-marido. “Ele [o ex] ajuda quando pode”, disse.

“Nós entramos aqui por não ter onde morar. Queremos ter a chance de comprar nossa casa por meio do Minha Casa Minha Vida”, avisa Lucilene Santos, 26, que mora no núcleo com o marido e o filho – e, por enquanto, não teve o barraco derrubado.

Mesmo sonho

Quem vê Carlos Garcia Júnior, 9, Alexsandro Lima Santos, 8, jogando bola não imagina que os garotos têm o mesmo desejo das aniversariantes Albertina e Valéria: a casa própria.

As duas crianças vivem em uma favela formada em abril de 2013, às margens da rodovia Alexandre Balbo, Anel Viário Norte, no bairro Heitor Rigon, em Ribeirão Preto. Cerca de 60 pessoas moram no local.

Juninho é filho do casal Carlos Eduardo Garcia, 30, e Aline Patrícia, 31. “Pagamos aluguel durante muito tempo. Mas, quando a situação apertou, precisamos vir para cá”, explicou o pai. “Estamos aguardando a chance de ser sorteado para ter nossa casa”, completou a mãe.

O avô de Alexsandro, Hélio Santos de Lima, 65, mantém o barraco arrumado para receber bem o neto.
“Sou pobre, mas tudo é limpinho”, garante. “Nasci em Cajuru e mudei para Ribeirão Preto com 1 ano.

Sempre fui vivendo como podia”, explicou Hélio, que tem um fusca branco, é corintiano e tem esperança que o neto, um dia, se torne jogador do Timão. Craque e com sua casa própria.

Cohab-RP tem 22 mil na fila de 0 a 3 salários

A fila da Companhia Habitacional de Ribeirão Preto (Cohab-RP) para buscar moradia tem 22 mil inscrições na parte para famílias que possuem renda entre 0 e 3 salários.

No total, a fila pela casa própria tem cerca de 29 mil famílias.

De acordo com o presidente da Cohab-RP, Silvio Martins, todos os empreendimentos para moradia destinado para famílias de 0 a 3 salários mínimos são divididos para demandas abertas e fechadas.

“Quando temos 500 apartamentos, por exemplo, 250 serão destinados para sorteio. O restante é distribuído para famílias que passaram pela triagem na Semas [Secretaria Municipal de Assistência Social] e estão em situação de risco”, explica Martins.

Apesar da longa fila, o presidente explica que a inscrição na Cohab-RP é a forma mais fácil de obter a casa própria. “Recomendo que as famílias façam o cadastro e aguardem”, completa Martins.

Prefeitura reforça programas sociais

Além dos dois núcleos na rua Javari e Heitor Rigon, Ribeirão Preto tem outras favelas surgindo – existe uma área no final da avenida Patriarca, na zona Oeste, que sempre é alvo de invasões, e uma outra na rua Pindorama, no Jardim Aeroporto.

Em nota, a assessoria da prefeitura informou que “os núcleos citados estão em terrenos particulares e a intervenção para desocupação deve ser de atribuição judicial” e, por isso, “não pode solicitar a reintegração de posse”.

“O município elaborou em 2010 o Plhis [Plano Local de Habitação de Interesse Social], que identifica os núcleos de assentamentos precários e indica a intervenção para cada uma delas”, completa a nota.

A assessoria também informou que, desde 2009, oferece o “Programa de Habitação de Interesse Social, destinado às famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos, por meio do Minha Casa Minha Vida”.

Números

Desde 2009, a prefeitura extinguiu 15 favelas, mas ainda existem cerca de 40 núcleos na cidade.

 

Fonte: Jornal A Cidade

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