Sem-teto se mobilizam para evitar despejo em Maceió

03 de agosto de 2013

por Marcos Rodrigues

As famílias sem-teto que ocupam o Edifício Palmares, no Centro de Maceió, contam agora com o apoio de estudantes universitários para resistirem à ordem de despejo decretada esta semana pela Justiça Federal. O prazo para desocupação do imóvel se encerrou ontem. Solidários à luta, os universitários, em sua maioria ligados a partidos e correntes revolucionárias do movimento estudantil e sindical, prometeram arrecadar alimentos para as famílias.

Enfrentando o frio e o risco de mais um despejo, desde que deixaram a área invadida entre a Santa Lúcia e o Murilópolis, na parte alta da capital, as famílias estão dispostas a resistir.

Segundo uma das lideranças, Maria Ivone da Silva, que integra o Movimento Luta pela Terra, até ontem, a informação de que o prédio seria desocupado já circulava entre os sem-teto. Por isso, chegaram a ser montadas “barricadas” para dificultar o acesso da polícia, no entorno do prédio.

“Por escrito não tem nada dizendo quando será o dia da desocupação, apenas confirmando o despejo, mas verbalmente ficamos sabendo disso”, comentou Ivone, pouco antes de mais uma assembleia no prédio.

Ela disse ainda que espera que a “promessa” dos vereadores seja confirmada. Na última quinta-feira, juntamente com os estudantes do Movimento Passe Livre, os sem-teto ocuparam o plenário da Câmara de Vereadores de Maceió. na ocasião, os vereadores se comprometeram em garantir mais cinco dias de permanência no imóvel.

“Nesse período, junto com o pessoal da prefeitura iria se tentar uma área, do município, para que agente pudesse ficar até que construíssem as casas para o povo”, disse Ivone.

Quanto à permanência no prédio, que foi interditado por apresentar risco de desabamento, Ivone desdenhou da ameaça. “Não acredito nisso porque ouço essa conversa há dez anos”.

Segundo a estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciane Araújo, o apoio dos estudantes é resultado de uma “aliança” com a luta por moradia no país. “Acreditamos que essa é uma luta de todo o povo brasileiro, por isso viemos para cá e vamos permanecer com eles. Por meio dos centros acadêmicos e do próprio Diretório Central dos Estudantes da Ufal, estamos mobilizando os estudantes para que colaborem com mantimentos para as famílias”, confirmou Luciane, integrante da Assembleia dos Estudantes Livre (Anel).

Pela logística que está sendo montada, a partir da próximas semana as primeiras cestas básicas devem começar a ser distribuídas. Até lá, uma parte dos universitários continuará dormindo no prédio com as famílias. Ontem, numa assembleia conjunta, eles também conseguiram apoio jurídico para as famílias.

A Secretaria Municipal de Assistência Social (semas) também compareceu ao prédio, assim como alguns médicos que examinaram crianças e idosos.

“Estamos com alguns casos de diarreia entre as crianças. No grupo também há mulheres grávidas que precisam de atenção”, disse Ivone”, cercada de crianças. E são justamente elas que têm sofrido com o frio, à noite, e o calor, durante o dia.

As famílias só ocuparam o prédio até o 2º andar. Os idosos e as crianças ficaram no térreo. Entre eles estava Célia Tomaz do Nascimento, 58 anos. Vivendo com uma pensão deixada pelo marido, ela diz que não aguenta mais pagar aluguel, por isso está na luta.

“Quero ter minha casa, um dessas bem organizadas com banheiro, quarto bom para terminar a vida tranquila. Acredito nessa luta e por isso passo por tudo isso ao lado deles”, falou Célia agasalhada e preparada para mais uma noite fria.

 

Fonte: Gazeta de Alagoas

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