Inverno recifense desaloja 76 famílias e milhares continuam ameaçadas

05 de agosto de 2013

Período pior passou, mas há 3 mil pontos de risco muito alto na cidade. Obras em andamento estão orçadas em R$ 30 milhões, diz URB.

por Alexandre Morais, do G1 PE

Moradora da Zona Norte do Recife, a dona de casa Maria José Gomes, 57 anos, perdeu o imóvel após deslizamento de barreira em Nova Descoberta. Com os R$ 151 que passou a receber de auxílio-moradia, concedido pela Prefeitura, ela alugou uma casa em uma área próxima. “Queria me mudar daqui do morro, mas não posso, o dinheiro é muito pouco”, diz. Assim como ocorreu com a família dela, outras 75 foram obrigadas a deixar suas moradias durante o inverno deste ano.

As remoções ocorreram entre abril e julho, época que mais choveu na capital pernambucana. No período, a precipitação acumulada foi de 1.456 milímetros, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Apesar do fim do período crítico, a cidade possui cerca de 3.000 pontos de risco muito alto, onde milhares de pessoas dormem aflitas e cobram obras permanentes para evitar novos acidentes.

De acordo com balanço da Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife, nos últimos quatro meses, foram registrados 188 deslizamentos, deixando quatro pessoas feridas. Os meses que tiveram mais ocorrências foram maio (81) e junho (54). Conforme a Apac, em junho também foi notificada a maior chuva do ano até agora, com acumulado de 498,3 milímetros, superando em mais de 100mm a média histórica do mês.

Recife tem 3 mil pontos considerados de alto risco de deslizamento (Foto: Alexandre Morais/G1)

“Desde a primeira gestão do ex-prefeito João Paulo [2011-2004] eu espero terminarem de fazer o muro de arrimo. Na época, a Prefeitura deu o material e nós entramos com a mão de obra. Até hoje, falta cobrir uma parte da barreira”, relata a aposentada Maria Zilda de Souza, 66 anos, moradora do Alto do Cruzeiro, Zona Norte. O filho dela, Cleber de Souza, 37, mora em uma casa na mesma comunidade e teme uma tragédia. “Eles vêm aqui, fazem vistorias, colocam lonas, mas não dão um jeito. As paredes da minha casa estão cheias de rachaduras. Quando vão ajeitar?”, questiona.

Moradora do Córrego do Jenipapo, na mesma região, a autônoma Jaciana Mendes da Silva, 43 anos, é vizinha do perigo. Ao lado da casa dela, há uma barreira de aproximadamente oito metros. “Eles botam lonas plásticas, mas elas se soltam no mesmo dia. Dizem que vão fazer a obra, mas só Deus sabe. Quando chove, a gente evita a cozinha, que fica perto da barreira”, afirma. Jaciana divide o imóvel com o marido, os dois filhos e a neta de apenas 3 anos.

Na Zona Sul da capital, a situação não é diferente. O casal José Rufino de Oliveira, 58, e Jandira Maria da Conceição Oliveira, 52, mora na comunidade de Três Carneiros há 23 anos. Até hoje, esperam pela obra da escadaria. “É um sufoco para chegar e sair de casa. Quando chove, fica cheio de lama”, reclama ele. Na mesma região, a dona de casa Maria Ovelina da Silva, 47, teme um acidente com a barreira situada atrás do imóvel vive com o filho. “Ela é muito perigosa. Temos medo o ano todo. Só ouvimos promessas porque nada foi feito”, lamenta.

Segundo o secretário de Defesa Civil do Recife, Adalberto Freitas, a fase mais crítica do inverno passou. “Intensificamos as ações em abril, maio, junho e julho, colocando lonas plásticas em 6.396 pontos da cidade nesse período. Isso representa um aumento de 240% em relação a todo o ano passado, quando foram atendidos 2.698 pontos”, ressalta. Ela acrescenta que das 76 famílias retiradas de imóveis ameaçados, 65 foram encaminhadas para casas de parentes e 11 para abrigos municipais.

Pela primeira vez, diz o secretário, foram mapeados 231 pontos crônicos de alagamentos na capital. As obras permanentes nas áreas de morro ficam a cargo da Empresa de Urbanização do Recife (URB). Em nota, a URB destaca que possui, atualmente, cinco contratos para execução de obras de contenção de encosta, drenagem (canaletas) e escadaria em 20 localidades do Recife. Dois serviços já foram concluídos pelo Executivo municipal: a Rua 19 de Março, no Córrego do Jenipapo (Zona Norte), recebeu um muro de arrimo de 53 metros de extensão e cinco metros de altura, beneficiando 50 famílias. Já a Rua Aristarco Pavão, na Várzea (Zona Oeste), foi contemplada com um muro de arrimo de 37 metros de extensão e 2,5 de altura, beneficiando oito famílias.

Ainda conforme a URB, todos os contratos estão orçados em quase R$ 30 milhões e novas obras serão concluídas ao longo do ano. “Serão contempladas localidades na Várzea, Dois Unidos, Linha do Tiro, Ibura, Jardim Monte Verde, Jordão Alto, Casa Amarela, Nova Descoberta, entre outras. Já a Diretoria de Planejamento e Projetos da URB está trabalhando na elaboração de 243 projetos para áreas de risco em todas as regiões da cidade. Somados, os investimentos para estas obras chegam a R$ 150 milhões”, detalha a nota.

 

Fonte: G1

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