Baratas e bem localizadas, favelas do Rio atraem novos moradores

13 de julho de 2013

Estrangeiros e imigrantes de outros estados passaram a avaliar as favelas como uma opção mais em conta

Se os antigos moradores estão indo embora, jovens com espírito mais aventureiro – principalmente estrangeiros e imigrantes de outros estados – passaram a avaliar as favelas como uma opção mais em conta do que bairros disputados e com metro quadrado muito caro como Leblon, Ipanema, Jardim Botânico e Copacabana. Ganham uma vista deslumbrante e experiência de imersão em comunidades, poupam dinheiro e ainda estão próximos das áreas mais nobres da cidade.

O jornalista Edgar Costa, 34 anos, veio cobrir o carnaval carioca de 2012 com uma equipe de televisão espanhola. Programou férias de duas semanas depois do trabalho e nunca mais retornou para Barcelona, sua cidade natal. Encontrou no Vidigal, favela entre o Leblon e São Conrado com pouco mais de 10 mil moradores, tudo o que precisava: aluguel barato, vista deslumbrante e atmosfera festiva.

“A favela não é um lugar onde eu pretenda construir família. Mas é um lugar excitante. Para mim, morar no Vidigal é, uau, uma aventura. E o valor compensa. Ainda falta muita coisa, mas você vai ver um apartamento em Copacabana e custa R$ 2 mil. Aqui custa R$ 800 e é perto de tudo”, diz o catalão, que primeiro alugou um quarto por R$ 400 na comunidade e depois acabou comprando uma casa pequena com uma laje por R$ 45 mil. “É uma quantia com a qual nem dá para sonhar comprar nada na Espanha. Mas aqui tenho um lugar para mim com uma vista incrível.”

Costa conta que muita gente não conseguia entender sua opção por morar na favela quando resolveu permanecer no Brasil. Mas isso tem mudado. “No começo, eu era o louco. Agora já tem outros estrangeiros que estão fazendo igual. Nós não temos a história de diferenciar asfalto do morro como o carioca que já estava aqui quando as favelas eram lugares perigosos. Para nós, o Rio todo é perigoso. E meus pais pediriam para ter cuidado se morasse aqui ou em Ipanema.”

Não existe um estudo que contabilize o número de estrangeiros nas favelas da zona sul carioca, mas basta se perguntar nas associações de moradores para se perceber a procura. No Santa Marta, em Botafogo, a entidade garante que todo dia pelo menos três estrangeiros procuram imóveis para alugar diariamente. No Vidigal, a associação local calcula em mais de 200 os estrangeiros que fincaram território, sem contar os que entram e saem da favela e ficam hospedados em vários hosteis que abriram no morro nos últimos anos.

Mas não são apenas estrangeiros que optam por morar nas favelas cariocas. Há brasileiros de outros estados que são seduzidos pelo Rio de Janeiro e encontram nas comunidades da zona sul uma opção barata para viver perto do mar. O capixaba Marlon Bruno Maia, 30 anos, é um deles. Ele resolveu abrir uma filial do seu serviço de Vila Velha no Chapéu Mangueira, comunidade no Leme com pouco mais de 4 mil moradores, há sete meses. Vive num hostel no próprio morro.

“Eu fiquei um tempo no centro, mas não gostei. Aqui a gente fica mais integrado com a natureza e tem a possibilidade de viver e trabalhar no mesmo lugar, perto da praia”, explica Maia, que nunca havia subido numa comunidade antes de lhe indicarem o hostel em um bar do Leme.

A segurança numa favela da zona sul é basicamente uma unanimidade para estes novos moradores. Por isso a Rocinha, com seus mais de 70 mil moradores e recentemente pacificada, ainda não é um ponto tão procurado por eles. “Aquilo lá é uma outra realidade, praticamente uma cidade”, afirma Maia.

“A única vez que ficou um clima estranho aqui no Vidigal foi quando mataram um garoto perto da minha casa. Era um acerto de contas entre bandidos, não sei bem. Mas geralmente, o Vidigal é bastante seguro”, conta Costa, que se surpreendeu apenas com as armas que a polícia utiliza. “Na Europa, a polícia não faz ostentação de armamento. Aqui é o contrário. O policial faz questão de mostrar que tem uma arma poderosa.”

Seja “gringo” ou brasileiro de outro estado, é inegável que a relação de comunidade dentro de uma favela é bem diferente daquela de um bairro nobre do Rio, de Barcelona ou de Buenos Aires. “Venho de um lugar onde você não conhece seus vizinhos. Aqui na favela o povo é muito acolhedor”, conta o argentino Alejandro Karpowicz, 40 anos, morador do Chapéu Mangueira desde 2011. “A comunidade te acolhe, é uma relação diferente do que a gente estava acostumado. Rola uma sedução. Falam do argentino aqui por causa do futebol, mas sempre fui bem recebido. Sempre me trataram muito bem. Faziam mais brincadeiras comigo quando eu era barman em Botafogo do que agora aqui na comunidade.”

 

Fonte: Terra Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *