Moradores resistem à reintegração de posse na Zona Leste de SP

27 de junho de 2013

Eles colocaram fogo em barricadas para evitar avanço de policiais.
PMs usaram bombas para dispersar grupo na manhã desta quinta.

Moradores de um terreno ocupado na região de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, resistiram à reintegração de posse iniciada na manhã desta quinta-feira (27). Eles colocaram fogo em várias barricadas. A Polícia Militar jogou bombas para dispersar o grupo e conseguir entrar na área. Um fotógrafo foi atingido por um estilhaço e ficou ferido, mas passa bem.

Moradores colocaram fogo em entulhos em ruas da região e fizeram várias barricadas com pedaços de madeira e pneus para impedir o avanço da polícia. Os bombeiros foram chamados para apagar as chamas. Por volta das 8h, uma das barricadas havia sido destruída por uma máquina. Nesse horário, os moradores se sentaram sobre tijolos para conter a entrada dos policiais.

O major Luiz Roberto Miranda Junior, responsável pela ação da polícia na reintegração de posse, disse que os moradores chegaram a jogar pedras nos policiais, por isso o uso de bombas. Segundo ele, um PM foi atingido no pescoço. O G1 presenciou a utilização de balas de borracha, mas o major negou ter recorrido a este tipo de armamento.

“Eles colocaram fogo na barricada e estavam dando pedradas. Nós tivemos que tirá-los daqui para as máquinas entrarem. A munição química é a melhor maneira”, afirmou o major. Apesar de a PM negar o uso do armamento durante a operação, a dona de casa Maria Telma Freires, de 29 anos, exibiu três unidades de balas de borracha e disse que o irmão de 10 anos ficou ferido no pé.

Moradores sentam em tijolos para evitar passagem de policiais (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Retirada de pertences
Caminhões foram disponibilizados para levar os pertences das famílias, que retiravam os móveis das residências por volta das 8h20. No horário, a primeira casa foi derrubada por uma máquina. Muitas residências são de alvenaria.

“A gente vai passando barricada, os caminhões vão entrando, recolhendo as coisas nas casas, colocando nos caminhões e, então, derrubando as casas”, disse o major. Ele afirmou que o papel da PM é dar apoio ao oficial de Justiça. “A gente está dando cumprimento ao mandado. Então se a pessoa não quiser sair da casa, a gente tem que tirar.”

A dona de casa Angélica Cordeiro, de 29 anos, afirmou ao G1 que, na época em que ocupou o terreno, foi informada pelos moradores que não poderia construir casa de madeira. “O pessoal falou que a Prefeitura disse que não poderia construir casa de madeira. Tinha que ser de alvenaria. Fui na subprefeitura e falaram que a área era do Incra.”

Uma jovem de 17 anos, que mora com marido e filho de 8 meses, disse que só soube da reintegração há dois dias e, por isso, não teve tempo de tirar todos os móveis da residência. “Ninguém da Prefeitura veio prestar assistência”, declarou. Ela afirmou ainda que não tem para onde ir com a família. Moradores disseram que pretendem ir ainda nesta quinta-feira para subprefeitura da região.

O terreno é particular e tem cerca de 77 mil metros quadrados. Ele foi ocupado há cerca de um ano e meio. O proprietário conseguiu, na Justiça, a reintegração de posse. Segundo informações do Bom Dia São Paulo, cerca de 70 famílias moram na área, que fica na Avenida Baronesa de Muritiba.

O fotógrafo atingido pelos estilhaços é Nelson Antoine. Ele foi levado para o Hospital São Mateus, na mesma região. Policiais do 38º Batalhão e da Força Tática participam da ação.

Decisão judicial
A decisão de manter a reintegração de posse do terreno foi dada nesta quarta-feira (26) pelo juiz Alessander Marcondes França Ramos, da 1ª Vara Cível. De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, ele negou o pedido da defesa dos moradores para suspender a reintegração. O juiz entendeu que não cabe aos donos do terreno providenciar moradia para os ocupantes da área.

Ramos facultou, no entanto, à Defensoria Pública o eventual encaminhamento das famílias “que entende carentes” aos órgãos competentes para analisarem a questão de moradia. Um defensor público acompanha a reintegração na manhã desta quinta-feira.

O advogado Davidson Gomes Vieira, que defende os interesses dos proprietários da ação de reintegração do terreno, diz que parte da área foi desapropriada. “O terreno pertence às famílias Zarzur, Zogbi e Nigri desde 1977. Eles são loteadores do Parque São Rafael, com 5 mil e poucos lotes. Desse espaço, temos desapropriação no subsolo por conta de dutos subterrâneos, mas o solo continua do proprietário para zelar e evitar perfurações nele. Também foi desapropriada parte da área para construção de um colégio que existe no local há mais de 40 anos. Sobraram 77 mil metros quadrados”, disse.

De acordo com o advogado, esse é o quarto pedido de reintegração de posse feito por ele, desde que famílias ocuparam o local. “Eram meia dúzia de casas em novembro de 2012. Agora não sei quantas são”, afirmou. Ele disse que todos os ocupantes estavam sendo avisados desde fevereiro sobre a reintegração. Os donos do terreno negociam a venda da área com empresas da construção civil interessadas em erguer conjuntos habitacionais.

G1 também procurou os defensores dos ocupantes do terreno, mas não conseguiu localizá-los para comentar o assunto. Um grupo de moradores da área fez uma manifestação dentro da Subprefeitura de São Mateus nesta quarta-feira (26). De acordo com a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, eles buscaram apoio do governo municipal.

 

Fonte: G1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *