Só sobrou a roupa do corpo e a identidade, diz morador de favela incendiada no Rio

15 de maio de 2013

por Julia Affonso
Do UOL, no Rio

Claudiomiro, o jardineiro que perdeu tudo e só ficou com a identidade por causa do incêndio de grandes proporções que atingiu a favela Bandeira 1, em Maria da Graça, na zona norte do Rio de Janeiro, no início da tarde de quarta-feira. Foto: Julia Affonso/UOL

O jardineiro Claudomiro Aguiar Nogueira, 64, morava havia 15 anos na favela Bandeira 1, em Maria da Graça, na zona norte do Rio de Janeiro, que pegou fogo no início da tarde desta quarta-feira (15). Ele foi um dos primeiros moradores do local e diz que perdeu tudo. “Só sobrou a minha roupa do corpo e a identidade. Agora é trabalhar para comprar tudo de novo”, afirmou.

Nogueira conta que saiu de manhã para levar a mulher ao médico, a deixou na casa da filha dela e voltou para a favela. Quando chegou, o local já estava destruído. “Os vizinhos não sabiam que a gente tinha saído e, quando eu cheguei, me disseram que ela [a mulher] tinha morrido”, disse ele.

Na casa do jardineiro havia TV, geladeira, cama, botijão de gás, caixa de som e alguns eletrodomésticos.

Cerca de 200 famílias viviam na favela. Segundo o subprefeito da zona norte, André Santos, o fogo atingiu as casas de 150 famílias. As outras 50 também serão retiradas, e o local deixará de ter moradores.

“Estamos fazendo o cadastro das pessoas para levar para um abrigo da prefeitura na Ilha do Governador e para todas as famílias receberem o aluguel social. Algumas pessoas vão para casa de parentes. O viaduto ficará interditado até o fim de semana para revisão da estrutura”, disse Santos.

Uma moradora que não quis se identificar contou que perdeu quase tudo – conseguiu salvar apenas parte de uma estante com um rádio. “Nem terminei de pagar as prestações dessa estante. Perdi tudo. Não quero ir para abrigo não, quero uma ajuda decente, uma casa direita”, disse ela.

“Só sobrou a chave”

A desempregada Kelly Silveira, 20, foi uma das vítimas que perdeu tudo no incêndio. A mulher havia saído com a filha de dois anos, por volta das 8h, para procurar emprego. Quando voltou para almoçar em casa, viu que o fogo estava pegando na sua casa.

“Cheguei aqui na favela há um ano, sem nada. Tudo o que eu conquistei pegou fogo, só sobrou a chave da minha casa. Pedi a um menino pra entrar e pegar minha identidade, que estava ao lado da porta, e ele conseguiu”, conta Kelly, que morava com o marido e a filha. “O resto ficou tudo lá. Os barracos eram todos de madeira, o fogo pegou muito rápido, muito forte. Só quero um teto decente, pode ser de papel, de qualquer coisa.”

“Estou igual crackuda”

A auxiliar de escritório Monique Silveira, 22, foi uma das vítimas do incêndio. Ela sofreu queimaduras leves, foi levada para o Hospital Salgado Filho, mas quis ir embora para ver como tinha ficado sua casa. “Eu estava na casa de uma vizinha e vi o fogo. Tentei chegar em casa para pegar meus documentos, mas não consegui. Perdi as forças por causa da fumaça, e uma amiga me puxou pra fugir pela linha do trem”, conta ela que morava com o marido no local havia um ano. “Nessa hora, o fogo pegou minha perna.”

Hoje, Monique vai para a casa da mãe, que mora em uma comunidade do outro lado da linha do trem. Ela pretende ficar lá até conseguir uma outra casa. “Estou igual crackuda, sem nada”, diz ela. “A vizinhança era boa, tinha muita família com criança, todo mundo trabalhador. Muito triste olhar e ver tudo perdido”.

 

Fonte: UOL Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *