“Remover para construir; destruir para construir”

30 de janeiro de 2013

por Isabel Cristina da Costa Cardoso, Professora adjunta da FSS/UERJ, Membro do Fórum Comunitário do Porto e Coordenadora do Projeto de extensão “Direito à Cidade, Política Urbana e Serviço Social” (FSS/UERJ)

É absurdo atrás de absurdo. Primeiro a prefeitura do Rio, através do programa Morar Carioca, sob responsabilidade da SMH, remove moradores da Providência e destrói suas residências na área conhecida como Apê, sob a alegação de que, nessa área, será construído equipamento de esporte e lazer. É importante observar que aos pés da favela foi erguido um importante complexo de lazer, a Vila Olímpica da Gamboa, inaugurada em 2004, como parte integrante de ações de “revitalização” da Região Portuária, sob o nome “Plano Porto do Rio”,  ainda na gestão do então prefeito Cesar Maia que veio a “abortar” o próprio plano a partir da não construção do  museu Guggenheim, no Pier Mauá.

Outros projetos somaram-se às ações de revitalização da região,  como a criação da Cidade do Samba, o programa Favela Bairro Providência, o projeto Célula Urbana e sua proposta de transformar a favela da Providência em um “Museu à Céu Aberto”. Assim, a Vila Olímpica é parte integrante de diferentes temporalidades de políticas urbanas superpostas na região portuária, desde o século XIX, que, de uma forma ou de outra, produziram esse espaço urbano a partir de ideais de modernização e progresso capitalista e, mais recentemente, revitalização.

Pois bem, agora é a Vila Olímpica da Gamboa que está no centro de uma nova decisão da Prefeitura do Rio que prevê destruir parte do equipamento para dar lugar à construção do Centro Integrado de Operação e Manutenção do VLT (ver matéria abaixo).  Não há lógica pública nessa espécie de “teatro dos horrores” em que se transformou a política urbana no Rio, ou a sua ausência (?). Remover para construir; destruir para construir. É a “máquina de crescimento urbano” em ação!

Se o espaço é uma mercadoria, não o é como outra qualquer. São grandes os desafios para subordinar o espaço à dinâmica de aceleração do tempo da mercadoria e das finanças no atual estágio das relações capitalistas. Fragmentar o solo urbano, destruir/reconstruir o ambiente construído; alterar as formas de uso e ocupação do solo; criar terra virtual e vendê-la na bolsa de valores… são alguns dos mecanismos para ultrapassar esses desafios.  O que ocorre na Região Portuária do Rio, através da Operação Urbana Consorciada do Porto, é a demostração do papel estratégico do Estado em todo esse processo de transformação do solo urbano aos interesses da reprodução expandida do capital.

Fonte: Fórum Comunitário do Porto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *