No Rio de Janeiro, índios prometem resistir à ordem de despejo

20 de março de 2013

Ao final desta quarta-feira, chega ao fim o prazo para a retirada dos indígenas que ocupam o prédio do antigo Museu do Índio

Indígenas ocupam o prédio do antigo Museu do Índio desde 2006. Foto: Daniel Ramalho / Terra

Nesta quarta-feira, às 23h59, esgota-se o prazo da Justiça, que deu ganho de causa ao Estado do Rio de Janeiro, na reintegração de posse do terreno onde funcionou o antigo Museu do Índio, para que os indígenas da Aldeia Maracanã sejam retirados do local – onde funcionará um museu do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), após revitalização do prédio abandonado.

O Maracanã, que será palco das finais da Copa das Confederações, em junho, e da Copa do Mundo de 2014, cederá à concessionária vencedora da licitação, com edital já publicado, para gerir o entorno, composto ainda pelo complexo aquático Julio De Lamare, a pista de atletismo Célio de Barros e o colégio municipal Friedenreich.

Como o prazo dado pela Justiça, e confirmado pela Secretaria Estadual de Assistência Social, se esgota na noite de hoje, a remoção por parte das autoridades policiais deve ocorrer apenas na manhã desta quinta-feira, já que por determinação judicial a retirada só pode acontecer durante a luz do dia, das 6h às 18h.

Neste último dia de ocupação, o Terra esteve na Aldeia Maracanã e se deparou com um clima de aparente tranquilidade, com um misto de apreensão sobre os próximos passos por parte do Estado, que ainda não se pronunciou sobre como será executada a ordem de despejo. A constatação também gira em torno de uma liderança já destituída entre os membros da aldeia, uma vez que alguns índios, antes tidos por porta-vozes de todo o movimento de resistência, já deixaram o local.

São no máximo 20 índios ocupando o terreno onde funcionou o antigo museu. O cacique Tucano, por exemplo, cujo nome é Carlos Antônio Fernandes Machado, antes figura de liderança junto aos repórteres, e inclusive nos processos contra o Estado, não está mais representando a aldeia. Ele teria feito um acordo com o Estado, junto com outros quatro índios, para deixar o local, com a promessa de que o prometido Centro de Referência Indígena seria construído, num prazo de seis meses, na Quinta da Boa Vista, bairro vizinho ao Maracanã.

Quem representa os índios neste momento de iminente desocupação é Maexwa Guajajara, cacique que veio de Brasília para ajudar no movimento de luta para manutenção do terreno. “Nós vamos resistir, viemos para defender isso aqui. Não temos dinheiro para hotel, nem nada. Não vamos sair, podem vir”, desafiou.

O portão de acesso ao terreno está tomado por uma barricada de arames e pedaços grandes de madeira. A única forma de acesso ao prédio é por meio de um muro na lateral, com uma escada colocada estrategicamente. Não são todos os profissionais da imprensa, porém, que são autorizados a pular para dentro da aldeia. Alguns veículos de imprensa considerados tendenciosos pelos ocupantes são barrados. É necessária a apresentação de um crachá funcional para que o órgão seja liberado para o ingresso.

Arão da Providência, advogado e indígena, é um dos poucos líderes que estão desde o início da batalha judicial contra o Estado. Com o documento de imissão da ordem de posse expedido pela 8ª Vara Federal (juiz Renato Cezar Pessanha) embaixo do braço, ele diz esperar “que ninguém use da força” e afirma ainda que “queremos trabalhar com o Estado”.

“Falta diálogo, eles não podem retirar a gente daqui sem oferecer uma alternativa imediata, a própria imissão de posse da Justiça trata disso”, explicou. Além dos indígenas, o Terra avistou cerca de quatro integrantes do movimento punk que, por mais que não queiram contato com a imprensa, estão dentro do movimento, como confirma o próprio advogado.

“Eles estão com a gente, eles sabem o que é se sentir discriminado. Estão no apoiando, assim como estudantes, ambientalistas, sindicalistas e outros defensores dos direitos humanos”, resumiu Arão da Providência.

Histórico
Em abril de 1953, o Museu do Índio foi inaugurado no atual espaço e funcionou, recebendo cerca de 3mil visitas diárias, e com um acervo de mais de 15 mil livros sobre a cultura indígena, até 1977. Neste ano, a instituição foi transferida para um prédio em Botafogo.

A alegação era de que, no local, seria construída uma estação do Metrô. Desde então, alguns projetos foram alinhados para a utilização do espaço, como o Ministério da Cultura, que pensou em transferir para o local alguns dos seus funcionários que trabalhavam no centro, e até a prefeitura esboçou uma frente de trabalhos para revitalização do prédio.

Nada, porém, saiu do papel e, abandonado, o terreno onde hoje funciona a Aldeia Maracanã foi ocupado em 2006 pelos índios. Um ano depois, o Brasil foi escolhido o país sede da Copa do Mundo de 2014 e, então, de forma progressiva, ano a ano, passou-se a discutir as intervenções do entorno – uma vez que o Maracanã, desde o início, era especulado como estádio que receberia os jogos finais do Mundial da Fifa e da Copa das Confederações.

 

Fonte: Terra Notícias

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