18 de outubro de 2012
Uma campanha da sociedade civil está buscando recursos para os moradores da favela do Moinho, localizada no centro de São Paulo, reconstruírem seus barracos. O trabalho é organizado pelo Mutirão pela Favela do Moinho, conta com uma página de arrecadação na internet e está sendo divulgada nas redes sociais. Desde o segundo incêndio que atingiu a comunidade em menos de um ano, que ocorreu um mês atrás, 40 famílias estão sem moradia, de acordo com os organizadores da campanha. Uma parte delas está alojada na sede de uma escola de samba situada embaixo do viaduto Engenheiro Orlando Murgel, ao lado da favela, sob condições insalubres, e outra está vivendo com parentes que também moram no local. O Mutirão pela Favela do Moinho, composto por um grupo de estudantes, deseja conseguir R$ 18 mil para comprar o material necessário para a reconstrução dos barracos dessas famílias.
O Mutirão pela Favela do Moinho é organizado por estudantes que se compadeceram com a situação da comunidade. “Moro no Campos Elíseos e, um dia depois do incêndio, fui à favela e vi que a situação daquela população estava bem tensa. Eles já tinham levado bala de borracha da polícia. Estudava na USP, já apanhei da policia e sei como é horrível a repressão policial em São Paulo”, contou Ricardo Alves, um dos responsáveis pela campanha. Dois dias após o incêndio, os moradores tentaram reconstruir os barracos perdidos, mas a Guarda Civil Metropolitana tentou impedi-los, o que resultou em um confronto violento.
“Até pouco tempo tínhamos um evento criado no Facebook que mobilizou pessoas a levarem doações, até que todas as famílias do Moinho tivessem pelo menos uma cesta básica. Fizemos um mutirão e arrecadamos alimentos e roupas para as pessoas. Agora, a prioridade prioridade da comunidade no momento é a obtenção de materiais de construção”, disse Alves. O Mutirão pela Favela do Moinho teve, então, a ideia de fazer uma “vaquinha” online para arrecadar dinheiro para comprar os materiais e pediu a autorização de Sales e de outros líderes comunitários, que fizeram os cálculos do material necessário. “A doação pessoal de materiais já está acontecendo desde antes, mas, claro, não é muito eficaz. Afinal, não são muitas as pessoas que têm material de construção sobrando em casa, e o transporte também complica”.
Em dezembro de 2011, 400 moradias foram atingidas por um incidente similar, que obrigou a prefeitura a implodir o Edifício Moinho, por conta do abalo em suas estruturas, e que interrompeu por semanas a circulação de trens da CPTM, já que a favela está próxima aos trilhos dos trens. À época, a Secretaria Municipal de Habitação, a Defensoria Pública e o Ministério Público assinaram o “Termo de Compromisso de Atendimento Habitacional”, que garantia o pagamento de auxílio-aluguel às famílias que perderam suas moradias até a conclusão das unidades habitacionais às quais elas seriam destinadas. O valor da bolsa, um programa social da prefeitura de São Paulo, é de R$ 300, mas os moradores afirmam que, nos noves meses posteriores ao primeiro incêndio, os pagamentos foram irregulares, com muitos atrasos, e que muitas famílias não foram cadastradas. Após o incêndio do mês passado, a prefeitura ofereceu aos moradores colchões, cobertores e cestas básicas, e os orientou a buscarem alojamento provisório por conta própria ou a se dirigirem a algum albergue.
Os incidentes na favela do Moinho foram dois dos quase 600 incêndios que afetaram favelas na cidade de São Paulo desde 2008. Diversos movimentos sociais suspeitam que esses incêndios serviram a uma estratégia imobiliária de usar os espaços que as favelas ocupavam para empreendimentos ou projetos de infraestrutura, já que várias delas estão localizadas em áreas compreendidas por Operações Urbanas da prefeitura e em regiões que vivenciaram valorização nos imóveis.
A Defesa Civil reconheceu que o incêndio teve origem criminosa. A versão inicial era de que o fogo tinha sido resultado de uma briga interna de moradores dependentes químicos, mas as investigações apontaram três focos iniciais de incêndio. Seja quais forem as reais razões do incidente, para os moradores da favela do Moinho o poder público municipal lhes trata com negligência.
Segundo o presidente da Associação de Moradores da Favela do Moinho, Milton Sales, a entidade solicitou por várias vezes, em vão, a instalação de um sistema de segurança na favela à Subprefeitura da Sé, que compreende o bairro de Campos Elíseos, onde está localizada a comunidade. “Durante vários meses, insistimos com o poder público para eles mostrarem as irregularidades que podiam causar um incêndio, mas eles não se interessavam por nós”, disse. Ele contou que os moradores construíram uma cabine de bombeiros, mas, durante o último incêndio, os equipamentos de combate ao fogo não funcionaram. Até agora, a prefeitura nada fez para alterar essa estrutura e melhorar as condições de segurança da favela do Moinho.
As obras já começaram com o material doado e com os próprios recursos dos moradores. Eles precisam de 500 tábuas, 100 vigas, 200 caibros, dois caminhões de areia, 400 telhas e 50 saco de cimentos. A “vaquinha” começou no dia 7 desse mês, mas, até hoje (18), somente 3% desse valor foi arrecadado – R$ 565. Assim que uma parte considerável dos recursos forem arrecadados, os organizadores da campanha vão promover mutirões de trabalhos. Alves aponta que os estudantes interessados em se envolver podem divulgar a campanha nos centros acadêmicos de suas universidades.
A reconstrução das moradias perdidas não conta com nenhum arquiteto ou engenheiro, até agora. “São os próprios moradores querendo construir as casas deles, com o conhecimento que eles têm”, disse Alves. O terreno da favela do Moinho ainda não pertence à sua associação de moradores, mas a reconstrução dos barracos perdidos no incêndio é urgente, para Alves. “É que claro que deve se pensar, a longo prazo, em um projeto de moradia mais estruturado para essas famílias, mas eles têm uma vida que está acontecendo agora e precisam viver. O que eles querem é que os barracos sejam construídos o mais rápido possível. Os R$ 17 mil são para fazer com o que temos. Esses materiais talvez não seja dos melhores, mas são o mínimo para a sobrevivência deles”, afirmou ele.
Fonte: Rede Brasil Atual
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