Cidades-fantasmas indicam bolha chinesa

21 de agosto de 2012

Apesar de concentrar 20% da população do planeta e da migração urbana nas últimas décadas, a China convive com enormes cidades-fantasmas.

O fenômeno de milhares de prédios novos e desabitados ocorre em várias regiões e alimenta o debate sobre o excesso de investimento imobiliário como causa de uma bolha prestes a fazer estragos na segunda economia do mundo.

A escala dos empreendimentos vazios impressiona. Só em Chenggong, no sudoeste chinês, são 100 mil apartamentos vazios e uma vasta infraestrutura de universidades, escolas, bancos e até duas estações de trem. A cidade começou a ser erguida em 2003 para ser um satélite da vizinha Kunming, capital da província de Yunnan. Mas, até agora, nada.

A várias centenas de quilômetros de Yunnan, na desértica Mongólia Interior, está Ordos, a mais famosa das cidades fantasmas.

A expectativa inicial era de que a cidade, cercada por jazidas de carvão e gás, crescesse rápido.

Mas, passados dez anos, a promessa não se cumpriu, e hoje são 300 mil apartamentos e uma vasta infraestrutura para uma população oficialmente estimada de cerca de 30 mil pessoas.

“Os chineses pretendiam manter a migração para as cidades nos próximos 20 anos”, diz João Carlos Scatena, especialista em planejamento de transporte, há 7 anos na China como consultor.

“Como a economia desacelerou, não estão conseguindo gerar empregos suficientes para retirar as pessoas do campo, apesar de estarem ainda construindo cidades para isso”, afirma.

A anomalia se estende mesmo em áreas próximas a Pequim. Em Tianjin, cidade portuária a meia hora da capital via trem-bala, um novo bairro com dezenas de prédios de escritório está sendo erguido em meio a planos do governo local para criar um polo de empresas do mercado financeiro.

Editoria de arte/Folhapress

Conhecida como Yujiapu, a região ficará pronta em 2019 e terá réplicas de edifícios de Manhattan, incluindo o Rockfeller Center. A um custo estimado de R$ 63 bilhões, o bairro acrescentará mais 9,5 milhões de metros quadrados de escritórios.

A febre de construção também parece ter sido exagerada em Hainan, a ilha tropical no sul do país. Ali, está Phoenix Island, um arquipélago artificial em construção para abrigar um resort, incluindo uma torre de 200 metros. O projeto foi apelidado de “Dubai da China”.

EXPLICAÇÕES

Uma das principais explicações para as cidades vazias é a falta de opções de investimento. “Não há outro lugar onde colocar dinheiro, a não ser em propriedade ou sob o colchão”, escreveu neste mês o empresário britânico radicado na China Mark Kitto, na revista “Prospect”. “O mercado de ações é manipulado, os bancos operam de uma forma não comercial, e o yuan é não conversível.”

Kitto prevê que a bolha estourará ou, numa hipótese mais remota, se desinchará lentamente, gerando risco de instabilidade social.

A revista “Economist” tem uma avaliação menos pessimista. Em artigo de maio, avalia que a China não gera “superinvestimento”, mas investimento ruim.

A publicação afirma que, apesar dos apartamentos vazios, há uma demanda reprimida e cita uma pesquisa de 2010 segundo a qual o país tinha um deficit de 85 milhões de residências urbanas, com três quartos dos migrantes viviam em desconfortáveis dormitórios das empresas.

 

Fonte: Folha de São Paulo

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