Na Bahia, famílias ameaçadas de despejo vivem na incerteza

13 de junho de 2012

Na manhã desta quarta-feira (13), a equipe de reportagem do Portal Folha do Estado esteve na avenida de Contorno, na entrada do 2º GBM-Feira (Grupamento de Bombeiro Militar), nos muros da subestação da Coelba, para constatar as condições de vida de duas famílias, que vivem no local há cerca de 5 anos.

Ao todo são 13 pessoas, sendo 05 crianças, residindo em barracos improvisados construídos de restos de madeiras e plásticos, e sobrevivendo da coleta e venda de produtos recicláveis. Na última quarta-feira (06), o Conselho Tutelar levou 03 das 05 crianças.

Conforme relatado por Maria Luiza Souza, responsável por uma das famílias, o Conselho tirou de maneira abrupta as crianças da mãe, inclusive usando de violência contra a mesma. “Duas conselheiras tutelares com um mandato para Natalino [a criança de 09 anos] vieram aqui 17h30 com uma viatura. Levaram a criança, jogou a mãe no chão, arrastou pelos cabelos, jogou spray de pimenta nos olhos dela, só porque ela se abraçou com os filhos, ela não reagiu. Às 18h chegou mais quatro viaturas a prendeu e levaram as outras duas crianças de 3 anos e 04 meses”, contou.

A mãe das crianças, Adriana Pereira Ribeiro afirmou que não sabe para onde os filhos foram encaminhados.

Despejo

Segundo Maria Luiza, os funcionários da Coelba querem tirá-los do local. “No primeiro momento ofereceram R$2.000,00. Depois R$3.000,00. Como a gente vai receber esse dinheiro, se não tem local para colocar os animais. Nós não tamo importando com dinheiro, nós não quer saber de dinheiro. Nós quer saber de um cantinho para nós criar, para nós viver”, disse.

A mulher contou ainda que recentemente a Coelba dedetizou o local e matou 13 cachorros, 10 galinhas e 5 patos. “Não fui denunciar porque eu não sou movida a dinheiro, eu só quero meu cantinho”, afirmou.

Ela alega ainda que a sua ocupação trouxe benefícios, porque o local era cheio de mato e usado por usuários de drogas. “Os marginais chegaram aqui, me ofereceram R$20 para fumar aqui. E eu disse: – Moço, não é porque eu não sou daqui, mas eu sou uma mãe de família. Esse lugar que eu ocupei foi por prioridade porque eu tava sem lugar para ficar, mas não para fumar droga”, relatou.

Futuro

Segundo a catadora de lixo, não quer voltar para sua terra natal, nem quer uma casa popular. “Eu não quero passagens para voltar para minha terra natal, Pernambuco, porque eu tenho meus animais. Eu quero ficar em Feira, adorei esse lugar, só quero um cantinho para colocar meus animais. Eu não quero casa também, porque não cabe meus bichos”.

De acordo com a mesma, houve tentativa de se inscrever no programa Minha Casa, Minha Vida, mas não houve sucesso porque não tinha comprovante de residência. “Se você não tem uma casa, como você vai ter comprovante de residência? Se você não vive de aluguel, está apenas em um barraco de plástico, como vai ter comprovante de residência?”, desabafou a mulher.

História

Maria Luiza Souza contou que veio de Salvador, com destino a São Paulo, mas quando chegou ao Portal do Sertão, roubaram sua égua, chamada Boneca. Seu marido puxou a carroça até o local. A carroça quebrou os cabeçais. Um amigo do casal, chamado Paulo, informou da existência do barraco abandonado no muro da Coelba. A família instalou-se no local porque não tinha condições financeiras e começou a pedir pelas ruas de Feira de Santana. Três semanas depois começou a trabalhar com reciclagem.

 

Fonte: Folha do Estado da Bahia

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