(Português) 16 de maio de 2012
Cerca de 70 famílias do Jardim Eldorado correm risco de serem despejadas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).
Eles alegam terem sido enganados pelo ex-prefeito Félix Sahão Júnior, que em 2003 lançou um programa de desfavelamento, que consistia em retirá-los do Parque Iracema e Santa Rosa e oferecer terrenos no Jardim Eldorado, onde ergueriam suas casas pelo sistema de mutirão.
Segundo eles, o ex-prefeito forneceu materiais para a construção das casas em troca da mão-de-obra de cada morador e após construção do imóvel prometeu que passaria a posse do mesmo, sem cobrança de aluguel ou qualquer despesa. “Trabalhamos 500 horas no total, construindo nossa casa, e nos mudamos para a mesma em dezembro de 2003. Após três meses, recebemos um contrato formulado pela CDHU, cobrando prestações pelo imóvel. Estranhamos o contrato, pois o acordo era que a casa seria nossa, sem custo algum, porém, na época decidimos pagar as parcelas com o valor mínino. Só que com o tempo, a maioria ficou desempregada e começou atrasar o pagamento e agora a CDHU exige que desocupemos o imóvel, alegando existirem ‘suplentes’”, explicou a moradora Sandra Regina Lopes, que tem ordem de despejo para esta quarta-feira, dia 16.
A moradora Milena Maria dos Santos Souza, de 28 anos, também está na mesma situação de Sandra, mora sozinha no imóvel com três filhos e tenta sustentá-los com seu salário de auxiliar de serviços gerais. “Isso que estão nos fazendo é errado, nós trabalhamos para ter esta casa e agora querem nos expulsar para outros ocuparem. Tenho três filhos e irei com eles para a rua?”, questiona Milena.
Doraci Rosa, de 68 anos, é aposentada e afirma estar com suas prestações em dia, porém não concorda com a atitude da CDHU. Ela disse que assim como os outros, trabalhou no mutirão da favela para conseguir sua casa e a promessa era que eles seriam donos da mesma. A aposentada ainda cobra da atual administração a atenção para com essa situação.
“Não sei para que investir dinheiro em construção de avenidas, enquanto há pessoas necessitadas de moradia, isso o senhor Macchione não vê”, disse, revoltada.
Os moradores deixaram claro que não se queixam de pagar as prestações cobradas pela CDHU, apesar de que para eles a casa foi comprada com o suor do trabalho de cada um, na época. E sim, que o órgão se recusa a negociar a dívida, parcelando débitos. “A companhia fica nos torturando com oficial de justiça e cobrança para reintegração de posse dos imóveis, sem abrir negociação”.
Para a dona-de-casa Benilda Cristina Breguedo Alves, que mora com dois filhos, o projeto de desfavelamento foi apenas uma estratégia da administração da época. «Fomos colocados às pressas nas casas, não tivemos tempo de ler nenhuma documentação e só após três meses fomos notificados que os imóveis eram um contrato com a CDHU e que tínhamos que pagar pelo mesmo. Ninguém, em momento algum, conversou com a comunidade para saber quais pessoas possuíam condições de pagamento, por menor que fosse a parcela”, revelou.
Lúcia Helena de Oliveira, que é inquilina de um dos imóveis, fez uma denúncia grave. “Eu pago aluguel de uma casa da CDHU, que foi adquirida por uma pessoa que tem posses, isso é errado, eles acham justo despejar quem não tem condições de pagar, porém, permitem que pessoas com poder aquisitivo estável tenham vários imóveis e ainda aluguem. Isso não está certo”, destacou. Ela não quis relevar o nome do proprietário do imóvel onde mora.
Os moradores declaram que caso não consigam uma negociação com a CDHU, criarão nova favela na cidade e muitos chegaram a afirmar que colocam fogo no imóvel onde residem, caso tenham de ir para a rua, sem direitos.
CDHU
A reportagem entrou em contato, por telefone, com o diretor regional da CDHU, Olímpio Cardoso de Moraes Neto, para saber o que realmente está acontecendo. Neto disse estar em reunião e que retornaria ao contato em cinco minutos. Como não o fez a reportagem, após 15 minutos, voltou a ligar para ele, mas chamou até cair e ele não atendeu. Até o fechamento desta página, às 18h49, o diretor não havia retornado. O espaço para que a CDHU dê sua versão está aberto. Nesta quarta-feira tentaremos, novamente, falar com o diretor Olímpio Cardoso de Moraes Neto.
A reportagem não conseguiu falar com o ex-prefeito Félix Sahão Júnior. Nesta quarta-feira será tentado contato com ele, para que fale sobre as denúncias.
Fonte: O Regional
Deja una respuesta