Carneiro Neto
Curitiba, 16 de outubro de 2011
A Copa do Mundo no Brasil tem trazido mais dores de cabeça, dúvidas
e preocupações do que se poderia imaginar na época em que o país disputou
o direito de realizar o megaevento.
Em um primeiro momento, Ricardo Teixeira usou o prestígio do ex-sogro,
João Havelange, bruxo internacional que ungiu Joseph Blatter, secretário
da Fifa, como seu sucessor na presidência. Depois, sensibilizou o presidente
Lula, o qual foi à luta e ganhou a parada.
O tempo passou, misturou-se o interesse público com o privado e, nesta
altura, o que mais se observa é a timidez dos prometidos investimentos
particulares com o avanço no dinheiro do governo.
A Copa de 2014 poderá divertir muita gente durante um mês e, sobretudo,
dar lucro para diversas empresas, rede hoteleira, restaurantes, comércio,
etc. Porém alguns poucos vão comemorar durante muitos anos os lucros auferidos
com a construção dos estádios e obras públicas de infraestrutura e logística
nas doze sedes escolhidas.
Assistimos a repetição da política criada pelos antigos romanos, que ofereciam
ao povo comida e diversão, com o objetivo de diminuir a insatisfação contra
os governantes. Era a política do pão e circo.
O poeta satírico Juvenal definiu a fórmula da política populista romana
como panem et circenses. Ela pode, de certa forma, ser aplicada ao Brasil
dos nossos dias com a criação de bolsas de ajuda às famílias carentes e
a candidatura do país à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016.
Entre frases de efeito e muitos planos trens-bala, metrôs, aeroportos
modernos, segurança pública plena e outras promessas que dificilmente serão
cumpridas dentro dos prazos , o preço do empreendimento bate em R$ 33
bilhões.
Por enquanto poucas autoridades podem garantir que o volume de investimento
em infraestrutura beneficiará o povo de forma permanente. O único legado
garantido é o endividamento público.
A construção de novos estádios em cidades com pouco apelo e retorno comercial
futebolístico, como Brasília, Natal, Manaus e Cuiabá, está estimada em
R$ 6 bilhões, dinheiro que, obviamente, poderia ser gasto na recuperação
de hospitais, escolas, estradas e tantas outras históricas deficiências
no atendimento à população. Ninguém sabe dizer como esses estádios serão
sustentados após o encerramento da Copa.
O governo brasileiro ensaiou um gesto de resistência a algumas imposições
contidas no caderno de encargos da Fifa como a meia-entrada para estudantes
e idosos, combate à pirataria de produtos oficiais e venda de bebidas alcoólicas
nos estádios, entre outras e teve de recuar.
Estava tudo combinado quando o Brasil aceitou as regras do caderno de
encargos da entidade do futebol mundial para sediar a festa. E, como se
sabe, o que foi combinado não é caro.
Fonte:
Gazeta do Povo
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