MT constrói teleférico de R$ 6 mi para a Copa sob suspeita de troca de favores

Vinicius Segalla

São Paulo, 19 de setembro de 2011

Terá início nas próximas semanas, no Mato Grosso, uma das mais inusitadas obras voltadas para a Copa do Mundo de 2014: um teleférico no município de Chapada dos Guimarães, a 67 quilômetros de Cuiabá.

O equipamento, dois cabos de aço que se estenderão por 1.500 metros, por onde correrão 30 bondes com capacidade para duas pessoas cada, tem custo previsto de R$ 6 milhões, e será custeado pela Agecopa (Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal). O passeio será do mirante da região da pousada Penhasco à serra do Atimã, na Chapada dos Guimarães. O objetivo da obra seria incrementar o turismo no Estado aproveitando os visitantes que estarão no país em 2014.

O governo de Mato Grosso deu início à construção do equipamento turístico em 2009, ano em que foi feita a licitação que definiu quem montaria o teleférico: a empresa gaúcha Zuchetto Máquinas e Equipamentos. O teleférico cruzaria a propriedade privada do advogado Antonio Checchin Júnior, que entrou em acordo com o governo estadual para que a obra pudesse ser executada. Os documentos oficiais dão conta de que foi feita uma doação por parte do advogado ao Estado do Mato Grosso.

Naquele ano, o teleférico era encampado pela Sedtur-MT ( Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo), que seria responsável pelo seu pagamento. O secretário da pasta e defensor da ideia do teleférico era Yuri Bastos Jorge. Já o doador do terreno, que imediatamente após sua doação passou a construir um restaurante ao lado do local onde o teleférico seria montado, havia sido doador da campanha de Bastos a deputado estadual, em 2002. Foram R$ 25 mil, a maior doação de pessoa física à campanha do secretário.

O Ministério Público Estadual foi à Justiça e conseguiu embargar temporariamente a obra, por irregularidade na documentação ambiental e por suspeita de que se “pretendia construir obras em aparente conluio com o requerido (Checchin Júnior)” . Yuri Bastos, então, chegou a processar o promotor público, alegando ser vítima de calúnia e difamação. O processo foi arquivado e o autor ainda foi condenado a pagar despesas processuais e honorárias de advogados do Ministério Público, avaliadas em R$ 5.000.

Em abril deste ano, o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) e a licença de instalação foram finalmente aprovados. A licença de aprovação era o passo que faltava para que o projeto pudesse sair do papel. O problema é que a Sedtur não possuía, naquele momento, recursos em caixa para tocar a obra.

Mas outra área do governo, a Agecopa, estava, sim, em condições de suportar o empreendimento, como defendeu seu diretor de Assuntos Estratégicos, Yuri Bastos Jorge, ex-secretário de Turismo do Estado e também ex-assessor especial de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes), que deixou o cargo no dia 25 de julho, em uma crise de corrupção que derrubou dezenas de funcionários no ministério dos Transportes entre julho e agosto.

Assim, ainda em abril, o teleférico da Chapada foi transferido para a Agecopa, que anunciou que o início das obras não tarda além do fim do mês que vem. Agora, vai.

Fonte: UOL Esporte


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